RESUMO - “UM NINHO DE ALMAS FORTES E DESTEMIDAS”: A MATÉRIA DE EDUCAÇÃO SOCIAL E SUA FUNÇÃO ENUNCIATIVA NA ESCOLA DOMÉSTICA (NATAL, 1911-1945)
Vitória Diniz de Souza*
Azemar dos Santos Soares Júnior
*UFRN - E-mail: vitoriaddesouza@gmail.com
A Escola Doméstica foi uma instituição de ensino doméstico inaugurada em 1914 na cidade do Natal no Rio Grande do Norte. O ensino doméstico era uma modalidade escolar pautada na educação de mulheres para serem “donas de casa” e na escolarização de conhecimentos acerca dos cuidados do lar e dos filhos. Para tanto, o objetivo desse artigo é analisar os enunciados produzidos pela Escola Doméstica acerca da matéria de Educação Social e as relações que estabelece com a construção de um ideal de feminilidade. A Educação Social era uma matéria dedicada para as alunas do último ano do curso e tinha como finalidade preparar as jovens para aquilo que a escola entendia como “função social” da mulher na sociedade brasileira do início do século XX. Sendo o seu conteúdo inspirado na conferência A Educação da Mulher no Brasil publicada em 1911 por Henrique Castriciano, idealizador da Escola Doméstica. As fontes analisadas foram: o Plano Geral de Ensino publicado em 1911, no ato de criação da escola; o Programa da matéria de Educação Social publicado em 1919 no Jornal do Commercio; e o Programa da matéria de Educação Social no Plano Geral de Ensino publicado em 1945. A metodologia adotada foi a análise do discurso de inspiração foucaultiana explicitada nas obras A Ordem do Discurso (1999) e Arqueologia do Saber (2008) que auxiliaram no processo de análise desses enunciados, percebendo a sua função enunciativa na produção de discursos acerca do feminino. Por isso, foi adotada a abordagem dos estudos de gênero, com o auxílio das teorias de Judith Butler (2003) e Guacira Louro (2008), para compreender o funcionamento desses discursos como práticas que visavam construir uma feminilidade. Portanto, percebeu-se que esses enunciados acerca da Educação Social concebia uma mulher do lar, atenta aos problemas sociais de sua época e que devia atuar sobre eles apenas naquilo que concernia a sua “condição de mulher”, ou seja, sobre a situação social da alimentação, dos desvalidos e das crianças, sem, no entanto, atuar na vida política. Dessa maneira, esses enunciados produziam modos de subjetivação da feminilidade e estabelecia normas acerca dos comportamentos, discursos e saberes.
Palavras-chave: Escola Doméstica; História da Educação; Educação Social; Estudos de Gênero; Feminilidade.
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