RESUMO - A REVISTA VIA-LÁCTEA NA PROPAGAÇÃO DA EDUCAÇÃO FEMININA (1914-1915)
Amanda Vitoria Barbosa Alves Fernandes*
Arthur Beserra de Melo; Marlúcia Menezes de Paiva
*UFRN - E-mail: amandavitoria_alves_@hotmail.com
O objetivo desse estudo é compreender as ideias acerca da educação feminina apresentadas na revista Via-Láctea de 1914 a 1915, período que corresponde ao primeiro número da revista e o oitavo, os quais tivemos acesso. Esse periódico foi criado por Palmyra Wanderley e Carolina Wanderley e contava com a colaboração, essencialmente, de mulheres potiguares, foram elas: Stella Gonçalves, Maria da Penha, Joannita Gurgel, Anilda Vieira, Dulce Avelino, Stellita Mello. Neste trabalho, utilizamos as edições do impresso estudado como fonte principal e a analisamos por meio da perspectiva da História Cultural, por permitir a compreensão de contextos históricos através de diferentes grupos (BURKE, 2012; CHARTIER, 1990). Nesta breve análise, destacamos o conceito de Configuração e Representação, apreendidos respectivamente por Norbert Elias e Roger Chartier. Uma Configuração diz respeito a união de indivíduos a fim de realizarem os objetivos do grupo, numa relação de dependência e reciprocidade (ELIAS, 2001). Já as representações, dizem respeito as práticas conscientes dos grupos a fim de adquirirem uma identidade social, expressando uma maneira singular de existência (CHARTIER, 1990). As mulheres que colaboravam para o funcionamento da Via-Láctea se uniram com o propósito de abordarem assuntos relacionados a religião, artes, ciência e letras, com ênfase na educação da mulher, onde discutiam sua posição social e os caminhos para a emancipação feminina. A Via-Láctea era voltada para o público feminino, seus textos eram essencialmente produções de mulheres. Concluímos que a referida revista concebia a educação da mulher por meio de textos poéticos e artigos curtos, fundamentados nos ideais de emancipação intelectual feminina, demonstrando seu lugar nas letras e artes e não apenas no lar e nas prendas domésticas.
Palavras-chave: História da Educação; Imprensa periódica; Educação Feminina.
Quais espaços essas mulheres ocupavam na sociedade potiguar?
ResponderExcluirOlá!
ExcluirAs mulheres, autoras da revista Via-Láctea eram filhas das elites potiguares, possuindo destaque social, especialmente suas criadoras Palmyra e Carolina Wanderley, uma poetisa e escritora e a outra professora primária. As demais mulheres, em sua maioria, eram professoras, ou letradas que tinham interesse em discorrer a respeito da religião, arte, ciências e letras, os quais eram os assuntos propostos pelas redatoras do periódico.
Amanda Vitória Barbosa Alves Fernandes
Parabéns pela pesquisa Amanda e Arthur. Eu também utilizo uma revista feminina como fonte histórica e gostei do trabalho de vocês. Fiquei com algumas dúvidas: a revista Via-Láctea se configura como uma revista feminista? Quem eram suas leitoras?
ResponderExcluirAss: Cibeli Grochoski.
Olá, Cibeli!
ExcluirAgradecemos a leitura!
Por mais que a referida revista tivesse o propósito de afirmar a independência intelectual daquelas mulheres, ela não era feminista. Havia uma preocupação com a emancipação da mulher enquanto sujeito que pensava e discutia sobre as referidas temáticas, mas também existia receios a exposição. Na maioria dos textos mais “militantes” usavam pseudônimos para se resguardarem e aos familiares. Ainda estamos analisando quem eram as leitoras do periódico, mas observamos que a Via-Láctea despertava o interesse de moças da elite, além de homens que tinham curiosidade em saber o que aqueles mulheres escreviam na revista, que só o nome incomodava muito, como afirma um dos artigos da referida.
Amanda Vitória Barbosa Alves Fernandes
Prezados Amanda, Arthur e Marlúcia,
ResponderExcluirParabéns pelo objeto de pesquisa escolhido. Entendi que a revista Via-Láctea era escrita por mulheres das camadas mais abastadas, em defesa da ampliação da educação feminina. Gostaria de saber como foram tratados os temas do trabalho e espaço público na escrita da revista. Apareceu, na leitura de vocês, alguma preocupação por parte das escritoras sobre o trabalho feminino de mulheres pobres?
Ana Cristina Pereira Lima
Olá, Ana Cristina!
ExcluirAgradecemos pela leitura!
infelizmente, não conseguimos identificar nas páginas da revista, textos referentes ao trabalho de mulheres pobres. Observamos que essa revista, assim como outras publicadas em Natal, visavam alcançar a sociedade letrada da cidade, e no geral, acabava sendo quase uma exclusividade dos mais abastados. As colaboradoras do periódico tinham mais a preocupação em trazer assuntos que agradassem esse público.
Amanda Vitória Barbosa Alves Fernandes
Olá, parabéns pelo objeto de pesquisa. É uma temática muito relevante para a sociedade brasileira, uma vez que o patriarcalismo ainda se faz muito presente, apesar das muitas conquistas sociais obtidas pelas mulheres, sabemos que ainda se trata de uma evolução gradativa. Pois bem, o objetivo era alcançar uma emancipação feminina, como essas informações chegavam até outras mulheres não engajadas no projeto? De que forma elas reagiram?
ResponderExcluirDANÚBIA DA ROCHA SOUSA
Ola, Danúbia Rocha!
ResponderExcluirAgradecemos pela leitura!
As colaboradoras da revista, buscavam emancipação intelectual, ou seja, queriam apresentar publicamente, por meio do periódico, suas capacidades de reflexão e discussão a respeito de temas relacionados a religião, artes, ciência e letras sem a supervisão e aprovação de figuras alheias aquele grupo. Mas, quando tratamos do início do século XX, a questão da emancipação da mulher ainda se concebia como um assunto delicado, como se pode perceber nitidamente em alguns textos da revista. As próprias colaboradoras, temiam a exposição e usavam pseudônimos para evitarem escândalos, tanto que poucas chegaram a colaborar com os assuntos da Via-Láctea, por temor. Ainda não conseguimos identificar as reações das mulheres que liam a revista, mas pudemos observar que muitas temiam se tornar colaboradoras por conta da repressão que podiam sofrer.
Amanda Vitória Barbosa Alves Fernandes
Trabalho importantíssimo!
ResponderExcluirEntendendo o feminismo como meio de eliminação das hierarquias sociais e com o intuito de produção de conhecimento na busca da emancipação das mulheres percebemos a importância de se ter mulheres em trabalhos que são ocupados, majoritariamente, por homens. Sendo assim, notamos que parte significativa da produção do início do século XX ainda passava pelo filtro do patriarcado, desta forma, essas revistas ainda tratavam de temas voltados à feminilidade e quando ousavam tratar de temas tidos como "polêmicos" geralmente essas mulheres sofriam fortes repressões, motivos pelos quais haviam muitas que não se intitulavam como feministas. Enquanto as mulheres brancas eram restringidas às tarefas do lar, as mulheres pretas e pardas ainda estavam submetidas ao trabalho compulsório. Logo, entendemos que tais revistas dificilmente chegavam a esta camada da população brasileira.
Olá, Geruza Paes!
ExcluirExatamente! havia a busca pela emancipação intelectual, mas nesse contexto, ainda era um desejo arriscado para as mulheres, os temores predominavam. Se as filhas das elites podiam ser reprimidas de certa maneira, às das camadas populares eram totalmente excluídas, pelo fato de também não terem oportunidades escolares semelhantes.
Amanda Vitória Barbosa Alves Fernandes