RESUMO - RACISMO E DIREITO AO CORPO: UM DEBATE NA ESCOLA A PARTIR DO PROGRAMA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA SUB PROJETO HISTÓRIA

Krishna Luchetti*
Benigna Ingred Aurelia Bezerril
*UFRN - E-mail: krisluchetti8@hotmail.com

O presente trabalho busca elaborar uma reflexão acerca das experiências adquiridas por nós enquanto professorandas do curso de História Licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte por meio do Programa Residência Pedagógica, subprojeto História. Estando na posição de residentes, nos últimos três semestres da graduação nos foi concedida a oportunidade de experienciar o ambiente escolar e submergir, assim, no ofício de professor. Neste artigo pretendemos focar em uma de nossas intervenções a qual é um exemplo marcante do debate levado à escola pública a partir do mencionado programa; uma oficina realizada em 26 de novembro de 2018, dia da Consciência Negra, na Escola Estadual Lauro de Castro, localizada no bairro Cidade da Esperança em Natal. Na oficina nós levantamos a questão do direito ao corpo, em especial do corpo negro e das questões de desigualdades de gênero, partindo do contexto atual e fazendo uma ponte com o recorte temporal do Brasil Império, trabalhando principalmente a vivência dos escravizados e a figura feminina. Motivadas pelo fato de se tratar de uma carência de orientação no tempo do alunado, uma vez que muitos deles são negros e vivem em regiões periféricas da cidade, nós problematizamos a violência que assombra os corpos negros e continua crescente no Brasil, assim como as desigualdades entre os gêneros que permeiam todo nosso contexto social. Dessa forma, buscamos trabalhar a questão do respeito aos corpos e da equidade social que estes deveriam ter por direito, incentivando os alunos a elaborarem produtos (cartazes, textos, encenações) a partir da leitura e interpretação de documentos e recursos didáticos.  Usando como aparato teórico para nossa práxis enquanto educadores fizemos uso de teóricos como: Circe Bittencourt e Jorn Rusen. Já nossa reflexão enquanto intelectuais e nosso papel ao pensar este trabalho se deu a partir de de Robert Darton. Também fizemos questão de trabalhar a ótica da discriminação racial a partir de autores negros, como Achille Mbembe e Djamila Ribeiro, o mesmo foi feito quanto à ótica das questões de gênero, da qual nossa principal referência parte da autora Chimamanda Ngozi Adichie.  Assim contribuímos para a formação da consciência histórica dos estudantes, e exercemos nossa função como professores historiadores. Visto que os estudantes, que consistiam em uma turma de oitavo e outra de nono ano do Ensino Fundamental regular, conseguiram trabalhar com a documentação e elaboraram diversos produtos. A partir das análises documentais e aula dialogada, tivemos, por parte do alunado, encenações que recriaram situações de racismo e discriminação de gênero, cartazes ilustrados, histórias em quadrinhos, pesquisas e afins como resultados, todos abordando pelo menos uma das problemáticas propostas. Tal intervenção é um exemplo rico dos diálogos possíveis entre academia e escola de ensino básico.

Palavras-chave: Cidadania; Direito ao corpo; Racismo.

Comentários

  1. Olá, Krishna.
    Qual era a turma que você aplicou a intervenção? Você percebeu se a turma tentou resistir as coisas propostas ou mergulharam a fundo sobre? Qual foi sua maior dificuldade?

    Parabéns, é sempre importante trazer esses debates para a fala de sala.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá, Ana
      Eu e Benigna aplicamos essa intervenção nas turmas dos oitavos e nonos anos (uma de cada ano). Alguns alunos do nono ano resistiram um pouco a ter que elaborarem o material (um dos quatro grupos, os demais se empolgaram bastante), mas no fim elaboraram um belo cartaz com desenhos e o apresentaram aos demais. No todo a maior dificuldade foi justamente desses alunos, que nas palavras deles "não estavam afim de fazer nada" , em se empenharem para contribuir com a oficina, mas no fim, eles conseguiram dar suas contribuições.
      Eu e Benigna agradecemos!
      Krishna Luchetti

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  2. Olá Krishna e Benigna, são comentários para desdobrar o debate. A Residência Pedagógica é um laboratório incrível. É um momento de experimentação no fazer-se profissional. É um desafio a sala de aula e abordar temas como racismo e discriminação racial e de gênero requer muito trabalho para o enfrentamento de um tema silenciado, difícil de ser abordado. O trabalho de construção da consciência histórica é um dos diferenciais no entendimento de seu lugar social no mundo, como o do enfrentamento do debate necessário sobre racismo, discriminação racial, social e seus congêneres. Parabéns pelo trabalho!

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    1. Olá, Juciene. Krishna e eu agradecemos seu comentário! Sim, é um desafio trabalhar este tema em sala de aula, felizmente, na escola em que atuamos recebemos apoio da professora de História da escola assim como as turmas que participaram da intervenção foram receptivas ao assunto e participaram bastante do debate, inclusive, contando algumas experiências vividas. Sentimos que, de fato, a intervenção fez sentido para as alunas e alunos. Foi incrível ver a reação de alguns grupos mediante algumas fontes do período imperial que levamos.

      Benigna Ingred Aurelia Bezerril

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  3. Isabela da Silva Ferreira26/08/2020, 00:13

    Olá, Krishna e Ingred. Parabéns pelo trabalho desenvolvido! Partir de problemáticas do presente para construir conhecimento histórico deve ser a orientação para nós professores de História. Pareceu muita rica a experiência. Na percepção de vocês, quais fontes foram melhor assimiladas pelos estudantes? Quais eles ficaram mais animados no estudo e compreenderam melhor como se relaciona com o tema do racismo?

    Obrigada desde já!
    Isabela da Silva Ferreira

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    1. Obrigada Isabela!
      Acredito que os documentos imagéticos chamaram mais a atenção deles, como gravuras da época que retratavam a escravidão, e pinturas de Debret. Os materiais didáticos usados também fizeram bastante sucesso entre eles, principalmente um trecho de história em quadrinho! Quanto aos documentos escritos alguns reclamaram de "ter de ler alguma coisa", mas no fim leram e elaboraram seus trabalhos! Com a confluência de documentos e depoimentos, acredito que eles conseguiram compreender bem o que era racismo!
      Krishna Luchetti

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