RESUMO - PRECISAMOS FALAR SOBRE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: UM OLHAR CRÍTICO SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO FUNDAMENTAL DOS ANO FINAIS
José Luiz Xavier Filho*
*SME - Lagoa dos Gatos - PE - E-mail: jlxfilho@hotmail.com
A pesquisa traz como objetivo analisar as possibilidades do professor em sala de aula para o entendimento e aplicação da Lei n. 10.639/2003 e a história e a cultura afro-brasileira, de modo a articular com o Livro Didático a expressar resultados que se processam com turmas de Ensino Fundamental dos Anos Finais. Propõe também abordar a cultura, e nesse contexto, as religiões de matriz africana, na percepção de significados dessa matriz na construção do ser brasileiro, em reflexão que se volte a formação dos estudantes nesse nível de ensino. Assim professores e professoras podem desconstruir antigos conceitos e inovar com outros numa discussão voltada a essas religiões, de forma a contribuir para que a escola se torne um espaço de direito, democrático, plural e reconhecedor da diversidade cultural e religiosa. Trata-se de uma pesquisa documental, recorrendo ao método observacional que traz como estudo de caso, focado no conteúdo programático a seguir de uma sequência de livro didático, que foram articuladas com as observações de professores. Espera-se, portanto, que os dados e análise desse trabalho, por meio de observações análise bibliográfica sejam contribuidoras para maior no aprofundamento de uma reflexão e tomada de atitude por parte dos profissionais da área.
Palavras-chave: Ensino de História; Religiões de matriz africana; Educação.
Infelizmente o Brasil ainda é um país que não valoriza tanto sua cultura. Como a escola poderia ajudar na valorização desta cultura no decorrer do ano escolar e não somente em datas específicas como, o Dia da consciência negra?
ResponderExcluirLeidiane Ribeiro Pinto Lopes
Dentro da escola que trabalho, fiz parceria com outros professores e suas respectivas disciplinas. Exemplo:
ExcluirLÍNGUA PORTUGUESA
• Leitura e produção de textos de diferentes gêneros sobre preconceito racial;
• Leitura de imagens: várias realidades vivenciadas por negros;
• Produzir, utilizando diferentes formas de expressão, textos individuais e coletivos sobre os debates e as reflexões do assunto;
• Leitura e produção de textos de diferentes gêneros sobre preconceito racial (exposição na escola);
• Poesias (apresentação do projeto);
• Estudo de Contos Africanos em sala de aula.
• Produção de Dicionário Afro-brasileiro em sala de aula (exposição na escola);
• Elaboração do painel com palavras de origem africana (exposição na escola);
• Poesia/Encenação – “Chamaram-me negra”
• Poesia/Encenação – “O meu cabelo não é ruim”
E construi junto com outros professores de outras áreas para trabalharmos em conjunto também:
HISTÓRIA
• Por que 20 de novembro? (apresentação do projeto);
• Biografia de personalidades afrodescentes e a história dos Quilombos (Zumbi dos Palmares).
• Refletir em relação ao início do racismo no Brasil;
• Reconhecer a herança cultural dos negros;
• Refletir e opinar sobre o papel do negro na formação da nação brasileira;
• Debater temas como: Preconceito racial / O processo de abolição;
• Breve histórico do movimento quilombola (homenagem as comunidades quilombolas locais: Cavuco e Pau Ferrado) e elaboração do mural de fotos das respectivas comunidades (exposição na escola);
• Murais com Ativistas Negros (exposição na escola);
• Encenação sobre ativistas negros, os mesmos usados nos murais (apresentação do projeto).
GEOGRAFIA
• Localizar comunidades negras no Brasil, mapeamento das comunidades remanescentes quilombolas atuais (elaborar cartazes, painel);
• Formação étnica do povo brasileiro;
• As migrações (translado África - Brasil);
• Apresentação de figuras ilustres negras e mestiças da história brasileira passada e atual, bem como de pessoas afro-brasileiras do convívio dos alunos;
• Contextualização de temas como: A África – Apartheid – Preconceito racial;
• Contribuições das civilizações africanas para a formação da sociedade brasileira.
José Luiz Xavier Filho
continuando
ExcluirCIÊNCIAS
• Genética dos negros (Presença ou ausência de melanina?);
• Doenças edênicas de origem africana;
• Leitura e análise de textos que refletem as condições subumanas vivenciadas por muitos negros em nosso país;
• Elaboração de um painel/mural sobre a alimentação de origem africana (exposição na escola);
• Mesa com pratos de origem africana (abrindo espaço para degustação através de lanche coletivo).
MATEMÁTICA
• Textos que retratem a discriminação racial contendo dados numéricos;
• Elaboração de questionário e realização de pesquisa sobre discriminação racial na escola e comunidade (aula externa);
• Trabalhar em sala de aula a história de Thomas Fuller, “escravo” Africano matemático;
• Construção e análise de gráficos.
ARTE (Educação Física)
• Observar manifestações de arte realizadas pelos povos afro-brasileiros;
• Vivenciar através de músicas sobre o tema um pouco da cultura africana através do canto e de dramatizações;
• A influência africana na nossa culinária, na dança, na música, na vivência religiosa e no jeito de ser brasileiro;
• Apresentação de peças teatrais, fantoches, recitais, exposições.
• Danças Africanas (apresentação do projeto);
• Performance com músicas negras brasileiras (apresentação do projeto);
• Elaboração de máscaras africanas (exposição na escola);
• Para as performances da música brasileira (sugestões). Dentre as músicas aquelas que mais costumam agradar os alunos são: Mundo Negro (O Rappa); Pérola Negra (Daniela Mercury); Mamma África (Chico César); Meu ébano (Alcione); A Loirinha, O Playboy E O Negão (Kelly Key); Olhos Coloridos (Sandra de Sá).
INGLÊS
• Identificação e tradução de palavras referentes aos seguintes temas: Pobreza, Discriminação e Injustiça;
• Trabalhar textos e músicas voltadas para os aspectos raciais;
• Utilizar em sala de aula músicas e clipes musicais de artistas negros (como por exemplo: Beyoncé, Rihanna, Whitney Huston, Michael Jackson, etc.) e trabalhar a tradução e significado das músicas para o povo negro;
• Estudar a vida de ativistas negros norte-americanos que influenciam o Movimento Negro no Brasil: Martin Luther King e Malcom X.
José Luiz Xavier Filho
Prezado José Luiz Xavier Filho, diante da pertinência da sua pesquisa, e levando em consideração que você escreve que é "uma pesquisa documental, recorrendo ao método observacional que traz como estudo de caso, focado no conteúdo programático a seguir de uma sequência de livro didático, que foram articuladas com as observações de professores", gostaria de saber (se possível) como você coletou ou está coletando essas observações de professores? A partir de um questionário ou coisa do tipo?
ResponderExcluirGrata,
Maria Luiza Pérola Dantas Barros
Trabalho junto com os mesmos professores, mas não me coloquei como professor. Assisti as aulas dos mesmo e escrevia relatórios dentro da análise das capas dos livros didáticos que a escolha escolheu. Também analisei como os alunos se comportavam diante de temas racistas e fui concluindo minhas observações.
ExcluirNeste trabalho os livros didáticos escolhidos fazem parte de uma série publicada pela editora FTD e foi adotado numa escola da rede pública. A diversidade cultural pontuada nos livros pode ser percebida a partir de suas capas. Nas observações da professora que trabalha em escola pública no município da Lagoa dos Gatos, alunos do 6º ao 9º ano, as capas dos livros causaram grande impacto às crianças, principalmente do livro do 7º ano que traz a imagem de uma criança africana. Foi necessário abordar em sala de aula a cultura diferente de alguns países e a forma como as pessoas se vestem, se cuidam e se embelezam. Dentre as capas, a mais criticada e observada pelos alunos foi esta. Frases como: “Que criança feia” ou “Parece que passou cocô no cabelo” foram ditas. Ao longo do ano, a professora aproveitou alguns momentos para elogiar, “despretensiosamente”, a criança da capa, na tentativa da mudança de olhar diferente o belo. Sobre essa questão do belo, também foi trabalhado em outra disciplina, a de Língua Portuguesa, para desmitificar o padrão de beleza que as crianças acreditam que exista. A imagem da capa do 9º ano, última série do Fundamental Anos Finais, já leva aos alunos a perceberem a união entre nossas diferenças, exemplificando a necessidade da paz entre nós, com a simbologia de uma pomba branca.
José Luiz Xavier Filho
continuando...
ExcluirA segunda etapa foi analisar junto aos demais colegas de trabalho o conteúdo programático dos livros do 6º ao 9º. É preciso entender que a história dos afrodescendentes vai além de um passado escravocrata. É preciso que se apresente em temas e textos, o protagonismo, valorizando aspectos históricos, culturais, religiosos, econômicos, sociais, intelectuais. E isso ainda está muito aquém do ideal.
Primeiramente, é necessário que os profissionais da educação superem o racismo e o preconceito para abordarem o tema da religiosidade afro-brasileira, visto que ainda se percebe no dia a dia a permanência de discursos discriminatórios que foram perpassados ao longo de nossa história cristã. Essa característica faz com que muitos da área da educação ainda considerem a religião africana uma prática demoníaca e profana, desconsiderando o seu verdadeiro valor de relações de permanências, resistências, mudanças, históricas.
A implementação da lei teve seu fator positivo, pois despertou em nós a importância de se levar para sala de aula conteúdos não abordados. Também detectou a dificuldade dos professores para abordar o tema e a necessidade de investimentos na formação desses profissionais.
José Luiz Xavier Filho