RESUMO - MULHERES DO PROGRESSO: O IDEÁRIO HIGIENISTA DE NESTOR LIMA EM MANCHETES DA REVISTA PEDAGOGIUM

Jackelline Freire da Costa*
*UEPB - E-mail: jackellinefr@gmail.com

Este trabalho tem por objetivo analisar os aspectos higienistas da educação feminina no Rio Grande do Norte por meio da figura do intelectual Nestor dos Santos Lima, no período da primeira república, através de textos publicados na Revista Pedagogium (1921-1923). Após proclamada a república havia uma urgência radical na modernização da nação, o projeto era nítido e configurava-se em todos os setores da sociedade, principalmente no campo da educação. A figura feminina, imbuída de instinto materno, atuava no cenário público à distância, na garantia de por meio da higiene e da moral contribuir para o progresso da nação. Nesse processo a imprensa pedagógica teve um papel importante, o discurso propalado pelos intelectuais incidia sobre a educação feminina, numa espécie de manual de conduta a ser seguido. A metodologia utilizada é com foco documental e teórico problematizando as publicações da Revista e discutindo à luz da abordagem de história cultural proposta por Chartier (1988) por meio do conceito de representação, com a concepção de lugar de fala de Certeau (1982), na possibilidade de construção de uma nova narrativa em Burke (1992) e o discurso de poder em Foucault (1996). Uma vez que a revista era de circulação entre o corpo docente, buscava fortalecer a construção da identidade do professorado, em destaque percebemos o papel que era atribuído as professoras, uma figura de mulher civilizadora, detentora do progresso, mas nos moldes desenvolvidos pela moral e higienismo, propagando o exemplo às normalistas. A Revista foi um importante veículo de comunicação do período, na sociedade norte rio-grandense, diante da construção do ideário pedagógico.

Palavras-chave: Educação Feminina; Intelectuais; Imprensa pedagógica.

Comentários

  1. É possível identificar, por meio dos textos da Pedagogium, as concepções do intelectual acerca da educação feminina?

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    1. No recorte temporal analisado foram encontrados 9 artigos de Nestor Lima na Pedagogium, versando sobre a educação feminina há apenas dois, "O Celibato Pedagógico" e as "Modas e a Educação, inclusive são artigos de poucas páginas, mas os ideais divulgados caminham com o modelo de sociedade que estava em ascensão, em que a mulher atuava no progresso da sociedade mas de forma indireta, cuidando dos filhos e do marido, e ser mulher, mãe e professora não era possível. Parece algo contraditório, uma vez que a mesma tinha o papel de contribuir com a nação com uma família, era uma educação restrita, a reforma do ensino de 1916 em seu art. 224 garantia a licença a maternidade, e o intelectual questionava, pretendia em breve extinguir esse direito. Havia também o uso específico do uniforme, criado para uso na Escola Normal, e usados em todas as atividades educativas, segundo Nestor tudo em nome da moral, higiene e religião. O corpo deveria está protegido, esse marcador higiênico é fruto de diversas doenças que assolaram períodos anteriores. Mas também devemos pensar como essas mulheres professoras extinguiam essa maternidade diante da profissão e seria interessante ver arquivos do período, conhecer esses uniformes, há muitas coisas nas entrelinhas e diante do limite do artigo não coube investigar.

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    2. Olá Jackeline Freire
      Sugiro a leitura do capítulo 6 - O vestuário da professora e a educação, da minha dissertação de mestrado, cuja fonte foi a Revista Pedagogium. Nesse capítulo analiso os dois textos do Nestor dos Santos Lima, que você utiliza, bem como outras ações desse professor enquanto diretor da escola normal, e o recorte temporal é 1921-1923. Caso te interesse envio o texto completo no seu email.
      Marlene Fernandes Ribeiro
      e-mail: marlene@ifesp.edu.br

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  2. Jackeline, boa tarde. Fiquei instigada em relação ao seu trabalho e segue uma pergunta para suscitar o debate. Historicamente, revistas/ jornais são espaços de difusão de ideias, comportamentos, debates, espaços de consumo etc. Como Nestor Lima operacionalizou em suas reflexões/textos, a noção de progresso para aquele momento, relacionando a figura feminina (das professoras), quais as relações que vai estabelecendo?

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    1. Boa tarde Juciene!
      Havia um projeto de modernização da nação, em uma estrutura conservadora, como era a sociedade da época, amparada na higiene, na moral e na religião, os aspectos defendidos por Nestor Lima em relação à educação feminina configura a formação de um perfil de normalistas que estivessem à altura daquele modelo educacional, o celibato pedagógico e o uso de uniformes contribuíam para essa imagem. Logo as professoras não podiam comprometer a família, pois segundo o intelectual não se podia ser boa mãe e esposa, então se optassem por ser as duas figuras constituiriam “uma mal família” o que não era bom Então algumas mulheres contribuem com o progresso da sociedade tendo filhos e se dedicam a família e outras apenas ao exercício do magistério, formando os filhos das outras, dando um bom exemplo. O caráter modelador das publicações e diante do lugar social de Nestor Lima fazem emergir o ideário de lograr êxito e reconhecimento pelo seu desempenho naquela sociedade. Estado que progride, desenvolve-se e contribui com o país e recebe visibilidade. Em seus escritos há implícita a noção de uma marcha de progresso, ora visível outra não, mas que já ganhava notoriedade em relação a outros estados. À mulher normalista cabia apenas seguir as regras.

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