RESUMO - IDEIAS PEDAGÓGICAS DE ANÍSIO TEIXEIRA E O PLANEJAMENTO DO ESPAÇO ESCOLAR NAS DÉCADAS DE 1930 A 1960

Ana Zélia Maria Moreira*
*IFESP - E-mail: azelia.mm@gmail.com

A edificação escolar na historiografia educacional brasileira constitui uma das preocupações centrais do intelectual Anísio Teixeira (1900-1971) no processo de renovação da educação do país entre 1920 e 1960. Este educador fazia defesa da escola como espaço destinado à formação integral do indivíduo e como tal deveria dispor de ambientes da residência humana, dos serviços de alimentação e saúde, dos esportes e recreação, da biblioteca e museu, do teatro e auditório, oficinas e depósitos, além de salas de aula e laboratórios. Por isso mesmo, para Anísio Teixeira a arquitetura escolar deveria inclui todos os gêneros de arquitetura. Em suas gestões públicas na educação brasileira – nível estadual e federal – buscou meios estratégicos de materializar ideias pedagógicas quanto ao planejamento do espaço escolar com vistas aos benefícios de expansão e melhoria da rede escolar por meio da implantação de modelos planificados, de planos de distribuição de escolas mediante planejamento urbano e de projetos arquitetônicos escolares executados por equipes técnicas de engenharia e arquitetura. Neste contexto, este artigo pretende expor a aproximação entre as ideias pedagógicas de Anísio Teixeira quanto ao planejamento do espaço escolar nas gestões educacionais no Distrito Federal (1931-1933) e Bahia (1947-1952) e a produção arquitetural de profissionais integrantes de respectivas equipes técnicas os arquitetos modernistas Enéas Trigueiras Silva (1905-1984), Diógenes Rebouças (1914-1994) e Hélio Duarte (1906-1989).

Palavras-chave: Anísio Teixeira; Arquitetura escolar; Arquitetos modernistas.

Comentários

  1. As ideias defendidas por Anísio Teixeira sobre a organização e estrutura escolar circularam em outros estados brasileiros, para além dos que ele atuava na Primeira República?

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    1. Sim. As ideias defendidas por Anísio Teixeira circulam enquanto planejamento do espaço escolar, por décadas na educação brasileira. A historiografia educacional contempla a questão da edificação, particularmente em suas gestões educacionais públicas empreendidas na Bahia em dois momentos – de 1924/1928(Diretor da Instrução Pública) e 1947/1952(Secretário da Educação de Educação e Saúde), no Distrito Federal entre 1931-1935(Secretário de Educação) e em nível federal no INEP/MEC(Diretor) entre 1952/1964 no processo de renovação da escola brasileira. Além de participação no plano educacional de Brasília (a convite do próprio presidente JK) são disseminadas em projetos de escolas em tempo integral implantadas no Rio de Janeiro e São Paulo, dentre outros estados, nos anos 1990 e 2000.
      Em todos os estados mencionados os projetos das edificações escolares têm autoria de profissionais da arquitetura. A exemplo no Distrito Federal(1931-1935) do arquiteto Enéas Silva, diretor da divisão de Serviços e Aparelhamento Escolar.
      Na Bahia na gestão de 1947/1952 destacam-se os arquitetos Hélio Duarte e Diógenes Rebouças desenvolvendo as "escolas-classe e escolas-parque" no plano geral do Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador.
      No INEP(Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), a atuação do educador em nível nacional, na estruturação do próprio órgão federal; criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e dos Centros Regionais em cinco capitais; assessoria aos planos educacionais nos estados por meio de convenio efetivando a cooperação técnica/financeira para construção de escolas rurais, escolas urbanas, dentre elas os Institutos de educação brasileiros.
      A tese sob titulo Centro Educacional de Formação do Magistério primário de Caicó: as ideias anisianas nos sertões do Seridó. UFRN/2018. Objetiva analisar as ideias de Anísio Teixeira refletidas na linguagem arquitetônica do Centro Educacional de Formação do Magistério Primário de Caicó (atual Centro Educacional José Augusto), linguagem entendida como organização espacial e expressão estilística.

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  2. Ana Zélia, seu trabalho é muito instigante pelo diálogo possibilitado entre as experiências históricas de educação e arquitetura. Sobretudo, pela possibilidade de se construir um diálogo entre educação e documentações da arquitetura, em diálogo interdisciplinar, a exemplo das plantas-baixas de escolas que passaram a ser planejadas/projetadas com as novas ideias defendidas por Anísio Teixeira para as políticas de educação/projetos de educação que incorporaram um ideário de progresso, de civilidade, de (trans)formação para a sociedade naquele momento de sua atuação. Se você puder desdobrar mais as ideias de teu artigo será ótimo! Um pergunta: os arquitetos citados trabalhavam tanto para o Rio de Janeiro quanto para Bahia, ou eram equipes separadas? Você trabalha com as plantas-baixas das escolas? Outro elemento interessante de reflexão é que a arquitetura passou a incorporar um linguagem de educação transformadora e vice-versa!

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    1. Um pergunta: os arquitetos citados trabalhavam tanto para o Rio de Janeiro quanto para Bahia, ou eram equipes separadas?
      A atuação de Anísio Teixeira como gestor público educacional na Bahia em dois momentos distintos:
       1924/1928 - Diretor da Instrução Pública no governo de Góes Calmon
       1947/1952 – Secretário da Educação de Educação e Saúde no governo de Otávio Mangabeira.
      Na primeira administração não identifiquei participação de profissionais arquitetos, mas na segunda havia estrutura administrativa com equipe técnica na Divisão de Aparelhamento e Serviços Escolares.
      Os arquitetos Hélio Duarte(carioca) e Diógenes Rebouças(baiano) são autores dos projetos de arquitetura e profissionais responsáveis pelo plano de edificação escolares para o interior do estado e da capital em consonância com o plano urbanístico.
      A Divisão de Aparelhamento e Serviços Escolares atuava em parceria com o Órgão de obras públicas da Bahia.
      Em Salvador, as empresas de consultoria/imobiliárias, dentre elas o Escritório do Plano Urbanístico da Cidade do Salvador – EPUCS - prestavam serviços para o governo do estado ou município na elaboração de projetos arquitetônicos(saúde, educação, segurança pública, etc) e de planos urbanísticos, dentre elas o Escritório do Plano Urbanístico da Cidade do Salvador – EPUCS.
      Diógenes Rebouças era arquiteto coordenador da EPUCS, empresa responsável por realizar projetos do município de Salvador e do estado.
      Hélio Duarte teve atuação na Bahia, entre 1936 e 1944, como arquiteto do Banco Hipotecário Lar Brasileiro na filial de Salvador e também como profissional autônomo. Transfere-se para São Paulo e coordena a Comissão Executiva do Convênio Escolar em São Paulo. Em 1947, retorna à Bahia a convite de Anísio Teixeira para participar dos projetos, juntamente com Diógenes Rebouças no desenvolvimento das "escolas-classe e escolas-parque" contidas no plano geral do Centro Educacional Carneiro Ribeiro em Salvador.
      A trajetória dos arquitetos brasileiros – desde os anos 1930 até aproximadamente meados dos anos 1970 – é marcada pela atuação profissional, principalmente nas capitais brasileiras como autônomo e/ou parceria ou por contrato de empresas de projetos de arquitetura para desenvolver projetos de arquitetura e planos urbanísticos para cidades. A maioria eram formados no Rio de Janeiro pela Escola Nacional de Belas Artes – ENBA ou Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil.
      A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP foi criada em 1948 e teve como um dos fundadores o arquitetos Hélio Duarte.

      Você trabalha com as plantas-baixas das escolas?
      SIM. Na análise do espaço escolar.

      Outro elemento interessante de reflexão é que a arquitetura passou a incorporar uma linguagem de educação transformadora e vice-versa!
      Os anos de 1950 a 1960 se caracterizam pela a renovação da escola brasileira empreendida principalmente pelo intelectual, educador e gestor público Anísio Teixeira e a difusão da arquitetura modernista por meio da produção de profissionais arquitetos, em sua maioria da Escola Carioca fundamentos em princípios do arquiteto suíço Le Corbusier.

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