RESUMO - A FRENTE DE EDUCAÇÃO POPULAR DO RIO GRANDE DO NORTE E A EXPANSÃO DA CAMPANHA DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER (1963-1964)
Roselia Cristina de Oliveira*
Marlúcia Menezes de Paiva
*UFRN - E-mail: rosecris9.rc@gmail.com
O presente trabalho se configura num recorte da pesquisa de doutoramento que tem como temática a Educação Norte-Riograndense: Entre o Desenvolvimento e a Influência Norte-Americana de 1950-1970. Em pesquisas recentes no Arquivo Público do Estado, localizamos na Caixa n.º 165 do acervo correspondente do Governo de Aluízio Alves, a minuta do Convênio entre a Prefeitura de Natal e a Prefeitura do Município de São Paulo do Potengi. Consideramos um achado importante, haja vista a falta de documentação. O documento remete a importância desse movimento sócio-educacional para a Educação Potiguar e sua Expansão desvela a repercussão de um trabalho coletivo, de baixo custo e com ampla participação popular. O movimento de expansão se inicia em setembro de 1963, estabelecendo convênios de Assistência Técnica e em janeiro de 1964, cerca de 40 representantes das Prefeituras de municípios do Estado reúnem-se no Centro de Formação de Professores para a adoção de um planejamento de interiorização da Campanha de Pé no Chão, coordenado por Josemá Azevedo. Na ocasião, também ocorre o lançamento da Frente de Educação Popular. A educação mobilizava estudantes universitários vinculados ao Centro de Cultura Popular da União Nacional dos Estudantes, funcionários da prefeitura e a equipe pedagógica do Centro de Formação de Professores num compromisso de erradicar o analfabetismo do Estado do Rio Grande do Norte.
Palavras-chave: Educação Popular; Expansão; História.
De fato é uma documentação com um assunto muito interessante! Fico feliz de ver um trabalho realizado sobre! Quanto as minhas questões, gostaria de saber que tratamento metodológico será dado a tal documentação para estruturação do texto? Quais os principais referenciais teóricos? No todo, desejo parabéns!
ResponderExcluirKrishna Luchetti
Bom dia Krishna Luchetti. Agradeço sua atenção.
ResponderExcluir1. Acerca dos referenciais teóricos, estou dialogando com Serge Berstein (2009) pois compreendo que a estrutura política nesse cenário (1963-1964) precisa ser melhor analisada. Para tanto, estou trabalhando com à noção de cultura política, tentando explicar os comportamentos políticos desse contexto.
Neste trabalho, estou utilizando a Cultura política enquanto chave interpretativa e dialogo com Jean-François Sirinelli (1992), que propôs considera-la "uma espécie de código e (...) um conjunto de referências, formalizados no seio de um partido ou mais largamente difundidos no seio de uma família ou de uma tradição política".
E como venho trabalhando com a temática da Campanha De Pé no Chão a um tempo, percebi as relações dos grupos do governo do Estado e da Prefeitura de Natal, algumas especificidades relacionadas as lutas antiimperialistas e as relações pessoais e partidárias entre governador e prefeito com seus aliados e desafetos.
2. No que se refere ao tratamento metodológico, estou utilizando a Operação Historiográfica de Michel de Certeau (2002), levando em consideração o seu lugar social, procedimentos de análise e a construção social. Certeau, em seu livro Operação Historiográfica afirma que "toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômica, política e cultural".
Causou-me estranheza um documento da Prefeitura de Natal, relacionado a expansão/interiorização de uma campanha educativa de sucesso, estar entre os ofícios recebidos e expedidos da Secretaria Estadual de Educação. E vale ressaltar que durante uma entrevista que fiz em 2002 ao ex-secretário de Educação Moacyr de Góes, ele relata que "em 1963 havia uma ciumeira danada com o sucesso da campanha". Lembrando que a prefeitura de Natal realizava suas atividades sem o dinheiro Norte-Americano, presente nas ações desenvolvimentistas do governo do Estado.
3. No que se refere a análise do documento encontrado, busquei na estrutura de análise que Júlio Aróstegui (2006) sugere, fazendo referência a verificação de autenticidade, classificação e adequação, assim como a análise categorial, estrutural e conteúdo.
O documento é uma minuta de Convênio da Prefeitura de São Paulo do Potengi com a Prefeitura de Natal.
E o que chama atenção nesse movimento são as datas: (1963-março de 1964) esse intervalo de tempo marca no Estado do Rio Grande do Norte, a mobilização do Governo Estadual com a organização das 40 Horas de Angicos, a Campanha de Alfabetização desenvolvida no Bairro das Quintas e o avanço da Campanha de Pé no Chão, desenvolvida pela prefeitura de Natal, assim como o Movimento de Educação de Base - MEB, vinculado a Igreja Católica.
Temos aí integrantes desses movimentos, militantes de esquerda e funcionários do Estado, colaborando numa Rede de sociabilidade que define a polarização do período.
Espero ter respondido suas questões.
Se tiver alguma sugestão de autores que possam ajudar, gostaria que pudesse compartilhar.
Gratidão
Roselia Cristina de Oliveira
Olá, Cristina. Que bom que você está conduzindo sua pesquisa sobre a expansão da Campanha "De pé no chão", fico muito feliz.
ResponderExcluirInteressante esse documento estar em meio aos arquivos do governo do estado. talvez, haja alguma relação com as 40h de Angicos. Não sei. Apenas uma hipótese. Já que as equipes de ambos os movimentos receberam formação comum de pessoas ligadas a Paulo Freire e por ele próprio também.
Você irá utilizar entrevistas em algum momento do trabalho?
Estou curiosa e na torcida por mais uma pesquisa sobre a campanha.
Abraços.
Saudades Aliny Dayany. Durante as pesquisas para a minha tese lá no Arquivo Público, buscava na documentação de governo (1950-1970) documentação relacionada a Educação, políticas de governo, planos de educação, dai localizei na caixa da SECERN - (1960-1965) essa minuta entre os ofícios expedidos e recebidos do governo de Aluízio Alves.
ExcluirFiquei muito surpresa, tanto com relação a localização - na Caixa da SECERN, quanto pela operação destruição do pós-golpe de 1964.
Concordo com você sobre esse arquivamento ter relação com as atividades da Campanha e das 40 Horas, mas durante a entrevista com Moacyr de Góes, ele deixa claro a competição existente entre a equipe da Secretaria de Educação do Estado com a prefeitura, e verbaliza inclusive que os prefeitos = 40 prefeituras, estariam em busca de resolução de problemas educacionais em seus municípios a baixo custo. Nesse sentido, penso que havia por parte da equipe da SECERN, naquela época, um estudo acerca de como esse convênio entre a Prefeitura de Natal e os demais municípios estavam acontecendo, pois Aluízio também havia planejado a interiorização da Campanha com o Método Paulo Freire. Seria maravilhoso alguém entrevistar pessoas que trabalharam lá para tentar recuperar essa memória.
Como esta pesquisa sobre A Frente de Educação Popular e a Expansão da Campanha se configura num recorte da tese, penso em um futuro próximo aprofundar e utilizar sim as entrevistas.
Para compor este artigo, vou utilizar as entrevistas que fiz em 2002 com Moacyr de Góes que não publiquei e com as duas representantes que entrevistei no mestrado. Eu não tenho os áudios como falei para você. Tenho as transcrições de todas elas. Como não estavam relacionados a temática da dissertação, guardei para uma oportunidade.
Vou disponibilizar para o Laboratório de História da Educação o documento, para que possa ser utilizado pelos colegas, pois com certeza suscita novas pesquisas.
Desde a última vez que conversamos aconteceram algumas modificações e a tese será; A Educação Norte-Riograndense: Entre o Desenvolvimentismo e a Intervenção Norte-Americana nos anos de 1950-1970).
Mas a paixão pela Campanha não se aparta de mim kkkkkk.
Um abração