RESUMO - ENTRE O APAGAMENTO DO CÂNONE E A NEGLIGÊNCIA DA HISTORIOGRAFIA: ONDE ESTÃO OS TEXTOS HISTÓRICOS PRODUZIDOS POR MULHERES NOS OITOCENTOS?
Jeane Carla Oliveira de Melo*
*IFMA - E-mail: jeane_melo@ifma.edu.br
O presente trabalho refletirá acerca da escritura histórica feminina produzida nos oitocentos, tendo como foco a análise do manual didático Resumo de História do Brasil, publicado em 1868 pela professora primária Herculana de Sousa, que exerceu o magistério entre as décadas de 1840 a 1880, em Cururupu, vila situada ao norte da província do Maranhão. A partir do uso da categoria de historiadora amadora (SMITH, 2003) discutiremos como algumas escritoras do dezenove produziram obras de cunho histórico mesmo estando ausentes dos espaços de sagração dos homens de letras cuja vida intelectual estava ligada ao IHGB, instituição que funcionava como órgão regulador na produção de uma memória nacional. O campo da instrução, em seu histórico processo de feminização do magistério, acaba se tornando o espaço privilegiado de obras escritas por mulheres. Portanto, buscando compreender quais ideias históricas as autoras mobilizaram em seus escritos, é que essa comunicação se estrutura, ao propor aberturas na história intelectual e ao mesmo tempo reivindicar a participação feminina no processo de construção de uma memória disciplinar da História enquanto área do conhecimento.
Palavras-chave: Historiadora amadora; Oitocentos; Livro didático; Herculana de Sousa.
Prezada Jeane,
ResponderExcluirOutros espaços "não formais" de divulgação da escrita feminina podem ser encontrados em várias províncias brasileiras do período. Além do livro "resumo de História do Brasil", objeto de sua análise, você identificou algum periódico como revistas femininas ou alguma participação em jornais de maior circulação (talvez um pseudônimo) dessas mulheres historiadoras amadoras?
Ana Cristina Pereira Lima
Estimada Ana Cristina,
ExcluirObrigada pela pergunta. O resumo acima se refere a minha pesquisa de doutorado, em andamento, no qual eu busco analisar, tendo a temporalidade oitocentista como base, a forma como as mulheres produziram conhecimento histórico - e aqui eu lido com um modo bem amplo de pensar história, tendo por critério a construção de um discurso sobre o passado que pode ser desenvolvido pela poesia épica, pela crônica, pelo livro didático e afins. No levantamento que tenho realizado, encontrei o romance histórico Mistérios do Prata, de Juana Paula Manso Noronha publicado em folhetins no Jornal das Senhoras, em 1852. Portanto, é possível pensar que havia a presença da escrita amadora da história pela pena feminina nos jornais. Já no caso das revistas, necessário realizar uma varredura maior em busca de autoras que se aventuraram pelo gênero histórico nesses impressos.
Jeane Carla Oliveira de Melo.
Olá querida, Jane!
ResponderExcluirEu gostei muito da sua proposta , acredito que devemos muito pesquisar e compartilhar trabalhos que retratem mais o papel das mulheres na sociedade brasileira dos anos setecentos e oitocentos, porém existem alguns empecilhos nesse trajeto, as fontes. O que te levou a pesquisar sobre essas mulheres historiadoras amadoras?
DANÚBIA DA ROCHA SOUSA
Querida Danúbia, obrigada pela pergunta. A pesquisa com a história intelectual feminina esbarra exatamente nisto que você acima mencionou: as dificuldades com as fontes. Os maiores empecilhos são: obras esgotadas, perdidas ou extremamente caras (porque são raras, se tornaram itens de colecionadores); famílias que não retornam o contato porque não têm interesse em disponibilizar o espólio intelectual sobre suas antepassadas escritoras; e, agora mais recente, impossibilidade de ida aos arquivos por conta da pandemia. E em relação às razões que me levaram a pesquisar as amadoras, basicamente se deu por eu ser uma historiadora feminista interessada em recuperar o lugar de protagonismo das mulheres na ciência e na cultura - e as fontes que levantei ajudaram bastante a dar corpo a este propósito. Um forte abraço!
ExcluirObrigada Jeane, pelo esclarecimento. Falei das dificuldades porque pesquiso também sobre as mulheres do Piaui (XVIII) e sinto essa dificuldades em acesso a fontes.
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